sábado, 28 de maio de 2011

Diário de classe - IX (ou: a presença negra na história)

Eu tenho participado de conversas sobre a presença negra na formação da América colonizada pela Espanha e por Portugal. As discussões ocorreram nas salas de aulas do Colégio Bom Jesus, cuja história do tempo presente está voltada para um setor da cidade de Joinville, uma elite econômica ligada à historicidade teuto-brasileira, que hoje está sendo alterada por conta das mudanças culturais ocorridas na cidade de Joinville.

As conversas giraram em torno de conceitos: questões étnicas, afro-descedentes, práticas culturais compartilhadas por pessoas de diferentes matrizes culturais; as influências da música negra do samba ao rock; a presença do racismo na sociedade brasileira.

O ponto mais pertinente do debate foi envolvendo a prática comum entre os teutos-brasileiros locais, onde se tem a ocorrência de entender somente os membros do seu grupo como portadores de uma “origem”. Após o término de cada aula, a sensação que o debate estava ocorrendo no lugar certo, na hora certa e com a visão de mundo necessária para mediar o debate e apresentar conceitos da história e da sociedade do tempo presente.

Ao escrever o último parágrafo, percebo a importância da promoção de debates sobre o tema, mesmo na cidade em que as leis são determinadas pelo mercado e por fortes traços preconceituosos as diferenças culturais, tanto nos que são os dominadores, aos que se colocam como dominados, como alguns de meus “companheiros de classe”.

Em uma semana ouvi relatos que relacionavam a história e a miséria da população negra no tempo presente. Em uma semana senti as inquietações nos corpos de adolescentes da sétima série. Em uma semana vi os olhos com lágrimas ao perceberem um mundo tão desigual. Em uma semana senti que ainda existem possibilidades de mudanças.

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Os acontecimentos relatados ocorreram na presente semana. Momento em que a cultura política, musical, literária e a teatral perdeu duas referências:

http://www.abdias.com.br/

Abdias do Nascimento morreu aos 97 anos, no dia 23 de maio de 2011. Uma referência na história da luta política do povo negro, tanto no Brasil e no mundo.


http://gilscottheron.net/

Gil Scott-Heron morreu aos 62 anos, no dia 27 de maio de 2011. Artista da música e da literatura. No final dos anos de 1960, fez das palavras escritas e cantadas um meio para interpretar as realidades vivenciada pela população negra nos Bairros de New York.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Triste. Lamentável.

Em 200 anos de história das lutas sociais, o laço mais valioso foi a solidariedade, o apoio mútuo entre as classes exploradoras pelo Estado e Capitalismo.

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Não é possível nenhum discurso acadêmico fazer acreditar que um professor da rede municipal de educação recebe um bom salário, que as escolas "nas mais em perfeitas condições".

Não é possível um discurso contrário a Esquerda Marxista fazer acreditar que as necessidades dos servidores municipais estão pautadas em mentiras.

Não é possível um ser vivo que gritou por passe livre, ou contra o aumento das mensalidades nas universidades, afirmar que a infra-estrutura e os pagamentos na rede estadual de educação são adequados com as necessidades do processo de educação.

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Triste. Lamentável. Vontade de correr para um quarto escuro e lá permanecer por longos dias, semanas, até os anos provocarem o meu falecimento frente a história.

domingo, 22 de maio de 2011

Mimado pra cacete.

Eu faço por merecer a fama de mimado. Não vou partilhar de hipocrisia em relação ao tema, sou mimado e ponto final. Afinal de contas, o que esperar de um homem que foi criado pela avó, pela tia e pela mãe? O que esperar de uma figura que cortou o cordão umbilical aos 30 anos de idade? Depois de não deixar uma única dúvida do quanto sou mimado, vou narrar algo sobre o mimo em mim.

O meu corpo dominado pela gripe é o meu estágio avançado no estado do mimo. Fico insuportável com todas as pessoas, fico manhoso. Nem posso tocar na louça para lavar na pia, posso me transformar num doente em estado terminal. Se alguém olhar pra mim, já estou preparado com uma afiada faca para apunhalar pelas costas. Devoro todos os pacotes de bolachas, viro uma criança morta da fome perdida num supermercado.

Procuro um livro já lido, como o “Caras dessas idade já não lêem manuais”, de Leonardo Panço. Olhos as letras distribuídas de maneira coloquial nas páginas, quero jogar o livro pela janela do banheiro. Resolvo procurar uma citação no “Reflexos do Baile”, do Antonio Callado, nada encontro. Penso que um dia vou morrer por nunca anotar as possíveis citações que futuramente terão uma utilidade. Vou até o James Ellroy, solto um dicionário Aurélio de palavrões ao autor. Como contar da morte da sua mãe daquela maneira? Tento ler, não rola.

A saída é abrir um pacote de bolacha Prestígio, abrir um arquivo de texto e redigir quatros parágrafos contra o homem mimado que sou. Deixando os possíveis leitores com raiva de mim, por chegar ao final do quarto parágrafo e perceber que esse texto é mais uma típica crônica sem conteúdo, tão comum aos jornais diários.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Que bom! (ou: a contradição)

Os últimos dois as escolhas estiveram presentes, todas ligadas a minha vida profissional.

A primeira foi perceber que tenho uma vida profissional definida, me tornei educador, antes tinha um diploma universitário.

Um segundo momento foi ocupar o tempo com longas jornadas de trabalho no chão da sala de aula, o que usa mais outras horas laboriosas no escritório doméstico.

A terceira escolha foi tentar combinar o teatro e trabalho, me tornar um trabalhador do teatro. A escolha me fez contra-regra, ator, apertar botões em mesas de luz e som, acompanhado da audácia de ser assistente de direção.

A combinação das três escolhas acarretou no afastamento de amigos e amigas, até mesmo familiares. No instante que escrevo o lamento por me afastar, percebo que novos laços afetivos surgiram. Que bom!

É habitual nas escolhas momentos de tristezas. Numa manhã, logo ao acordar, verbalizei algo próximo de “Bom dia, tristeza”. Era a falta de pessoas lindas e importantes na minha formação. No transcorrer daquele dia, a tristeza se perdeu na rotina de trabalho, ao chegar o começo da noite, tinha uma satisfação por vivenciar todas as últimas escolhas. Ou seja, a contradição de viver na cidade do capital.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Lorotas do corredor de História I

Uma grande lorota do meu tempo de graduação foi um ato de violência. Lembro até a data, 30 de outubro de 2003. Dia que o Conselho Administrativo votava um aumento absurdo na mensalidade, só não lembro o valor exato.

Na ocasião, a gestão no poder do DCE chamava-se Jornada Acadêmica, cujo nome era farsa, pois nada existia de profundidade acadêmica nos estudos nem na política. O lance era um encardido modelo político-partidário de manipulação, envolvendo frágeis nomes de pretensos políticos profissionais do PMDB.

Evidente que surgiu uma forte oposição ao modelo de gestão, especialmente nos cursos de Letras, Direito, História e Geografia, entre algumas individualidades de outros cursos. A ação crítica da oposição era clara: a gestão estava interessada em agradar a administração da UNIVILLE e aos interesses externos dos estudantes em detrimento das necessidades estudantis.

No referido contexto, um grupo expressivo de estudantes, algo entre 400 a 500 estudantes, organizaram a resistência contra o aumento. A última medida seria a ocupação do prédio da reitoria se não houvesse a paralisação da votação, abrindo uma discussão ampla e democrática. É óbvio que não ocorreu nenhum atendimento da oposição estudantil.

Por volta das 20 horas à oposição ocupou o prédio da Reitoria. O presidente do DCE resolveu impedir solitariamente, agindo como um Dom Quixote às avessas, a ocupação. O resultado foi a “massa” entrando no prédio, cancelando a reunião. No momento várias viaturas da polícia, dos bombeiros, dos jornais e outros foram chamados para conter o ato violento. Deixo para outro dia um relato detalhado do episódio.

No dia seguinte, o Dom Quixote as avessas, acompanhado dos seus promotores de festas, apareceu com o braço envolvido por um gesso. O braço havia sido quebrado na noite da ocupação, segundo a própria vítima, o responsável havia sido este que escreve no blog.

Hoje tenho um misto de risada e revolta com o fulano, é claro. Mas até o esses dias tinha só revolta. Felizmente a mentira não ganhou corpo, inclusive dois dias depois a vítima já havia retirado o gesso. Quem sabe tenha ocorrido uma intervenção divina no rápido processo de cura.

domingo, 15 de maio de 2011

Diário de classe - VIII

Num dia desses tirei um tempinho para conversar com uma psicóloga, um papo não profissional, tinha certo caráter afetivo encontrado em relações de amizade. Fato que muda as questões subjetivas do papo.

Na conversa falávamos das dificuldades das pessoas entenderem as verdades individuais, aquelas cotidianas.

Serei mais objetivo: estou de saco cheio de lidar com os preconceitos identificados na minha vivência profissional. É difícil, posso afirmar que é a parte mais triste.

As situações provocam pensamentos de uma possível desistência. Largar mão da minha escolha profissional. Sim, ser educador foi uma escolha pensada, calculada. Ao contrário de um número significativo de professores, não acabei na licenciatura por ter “falhado” na tentativa de ser engenheiro, ou médico, ou administrador.

É triste viver no contexto em que um homem não pode assumir publicamente que parte das suas manhãs de sábado são dedicadas aos serviços domésticos, ou de que toda noite caminha com Alfredo, ou que partilha de amor por seus amigos gays e suas amigas lésbicas.

Ao perceber que sou educador, não professor, aquela figura que encara a sala de aula da mesma maneira que aperto o parafuso da porta do apartamento nas manhãs de sábado. É o momento que largo a mão de desistir.

domingo, 8 de maio de 2011

Passaport

Passaport é a nova montagem da CIA Rústico Teatral. O Samuca e o Vini me convidaram para fazer assistência de direção. Clique aqui para acompanhar a reta final dos ensaios.

PASSAPORT, de GUSTAVO OTT - espetáculo licenciado pela ABRAMUS - TEMPORADA em 16, 17, 18, 19, 23, 24, 25 e 26 de junho de 2011, às 20h, PRAÇA DA BANDEIRA, CENTRO DE JOINVILLE-SC - Cia. Rústico Teatral e Studio Escola de Atores - ELENCO Robson Benta, Rodrigo Vargas e Vinicius da Cunha - CRIAÇÃO DE LUZ Flavio Andrade - TRILHA SONORA Leandro Pedrotti Coradini - DESIGN GRÁFICO Isadora Dickie - PRODUÇÃO EXECUTIVA Luciano Cavichiolli e Samuel Kühn - ASSISTÊNCIA DE DIREÇÃO Maikon Duarte - DIREÇÃO Samuel Kühn.

domingo, 1 de maio de 2011