domingo, 8 de agosto de 2010

Carta do tempo de infância

Querida mamãe,

Eu preciso contar um segredo.

Ontem, logo após o almoço, fui a pé até a Igreja Cristo Ressuscitado. Calma, não precisa se preocupar, correu tudo bem.

Da casa da vó passei pelo barbeiro João Careca, que me disse oi. O Juca, da mercearia, soltou o seu “Vê, vê... lá vai o neto do Walmor”. O bigodudo da padaria disse um tranquilo oi, a professora Iria, da janela da direção da Escola, sorriu pra mim. Na Rua Barra Velha o calmo senhor da casa espírita me olhou como se soubesse de todos os meus planos e preocupações, já na Rua Santa Catarina tomei cuidado ao atravessar, peguei carona com um conhecido passarinheiro da redondeza.

Na Igreja, procurei sentar nas cadeiras artesanais, atentamente olhei para o altar, de longe o Padre me olhava. Ele estava naquela sala que nunca entramos, não vestia o babador cheio de bordados, era quase um homem como o tio, se não fosse Padre, é claro.

Eu rezei um breve um pedido.

O pedido foi para a senhora nunca revelar o seu segredo, que pesa na minha vida. Mais uma vez, tenha calma. Falo sobre a origem do meu nome, já que na Escola os meus amiguinhos estão pegando no meu pé, dizendo que meu nome veio da padaria, daquela depois do Vera Cruz. Eu tenho um medo disso ser verdade.

Faça um acordo comigo, eu contei o meu segredo na carta e você nunca revele a origem do meu nome. Eu te peço, caso o meu nome venha de lá, nunca conte.

Beijinho do seu filho.

2 comentários:

Anônimo disse...

As coxinhas de lá são ótimas.

Anônimo disse...

Não interessa de onde vem... mas para onde vai.