A peça Passport ocorre com força. Ainda temos as seguintes apresentações: 18, 19, 23, 24, 25 e 26 de junho de 2011, às 20h, PRAÇA DA BANDEIRA, CENTRO DE JOINVILLE-SC
Reproduzo o meu texto que está no programa da peça.
Passport: para cada fronteira urbana
No dia 18 de março de 2010, os jornais noticiaram a “Operação de Guerra”, era é contenção do tráfico de drogas no centro de Joinville. Ao reproduzirem a fala do major, responsável pela operação, veio a público o que era feito e não dito na mídia local:
“Abordem qualquer pessoa que esteja desocupada, incluindo prostitutas e travestis. Se continuarem pelas ruas, abordem novamente. Façam isso dez vezes se for preciso”
A guerra utilizava do discurso antidrogas para a limpeza social. Neste caso, o major sentenciou uma prática culturalmente aceita. Que não será mais permitida a circulação de pessoas desocupadas, inclusive, mulheres ou travestis em condição de prostituição. O lixo precisava ser retirado dos olhos do público, a higienização das ruas centrais. As fronteiras, paulatinamente, não já eram mais invisíveis.
Para as mulheres e travestis em condição de prostituição não existem passport. Aos desempregados, que podem entrar no contexto de desocupado, o passport é somente a carteira assinada. Aos moradores das periferias da cidade da “ordem”, da “paz social” e do “trabalho, o passport é ter R$ 2,55 para sair do Bairro e outros R$ 2,55 para voltar à sua casa. Ao adolescente negro que circula nas ruas do bairro “de origem”, só permitido se for numa viatura policial. Para garoto pobre e gay demonstrar sua afetividade é preciso estar na escuridão de quatro paredes do seu quarto, jamais numa danceteria do centro, ou da periferia. As fronteiras na cidade estão postas por critérios de poder do capital e das culturas dominantes.
A cidade torce pela Rua das Palmeiras voltar a ser um cartão postal. Vibra com a possibilidade de utilizar os direitos constitucionais na Praça da Bandeira, é a alegria por torna-se possível, prazerosa ao exercer civismo pátrio. Sorri por não ter o “bom bairro” invadido por figuras das periferias e, sem precisar esconder a demonstração da afetividade heterossexual.